sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sobre amor, clamor e ponto de exclamação















Lendo uma entrevista com o genro de Lacan, interessei-me por compartilhar aqui uma das respostas dadas à entrevistadora quando a mesma o questionou acerca da incapacidade que algumas pessoas tem de amar.

Mas antes, atendendo ao tema sugerido para esta sexta-feira de agosto, parece-nos desafiador ou um tanto aborrecedor filosofar sobre o amor, sobre o clamor pelo amor. Se amar é compartilhar, afinal, é possivel amar sozinho? mais além, é todo mundo que sabe amar?

Em sua plataforma Freud acenou não só uma vez para o amor e sua humana importância. Nos disse sobre a fragilidade orgânica em razão da falta de amor e de como os que não amam adoecem. Foi ele inclusive, enquanto fundador da psicanálise, que nos assegurou a importância do tratamento psicanalítico na tentativa de libertar exatamente esse humano amor recalcado.

Bom, é no engendramento da clínica psicanalítica contemporânea que nós, discípulos ou não, assinalamos o amor como ingrediente indispensável ao processo terapêutico. Desde as máximas bíblicas e hoje intertextualmente quando precisamos clinicamente "amar ao próximo" para, sem preconceito, acolher e fazê-lo acolher-se também... até o mais suspeitoso ateísmo de quem só acredita no processo, vendo. 

É no contato e exatamente do aviso lacaniano do risco sempre presente deste contato - com a polêmica ou indevida troca de significantes - que a análise vai existir. O amor transferencial descrito por Freud será sempre o grande palco para o mais belo espetáculo terapêutico - A (re)descoberta do amor, seu entendimento e ressignificação. Afinal, também é possível ao mais ateu a experiência da epifania, da revelação.

Porém, antes da clínica, muitos acabam se tornando vítimas em potencial de uma convincente propaganda e que é enganosa. Tem gente que diz amar. Mas como é este amor sem cumplicidade, sem confissão de segredos, sem humildade?   
 
Nesta rotulada pós-modernidade, quantos não conseguem atravessar esta ponte em busca do seu amor no outro? Necessidade humana de se permitir. Paradoxalmente, porque ser amado é o mais difícil? Por que algumas pessoas apenas ensaiam o amor em vôos curtos, rasteiros? No set analítico tal sintoma transborda-se dos mais contidos aos histriônicos. No fim, os que aqui aportam desejam agonicamente o vôo. Na psicanálise, não haverá grotas tão profundas que não sejam iluminadas pelo facho da luz morna do desejo de saber. 

Ficamos em vigília pelos que amam e pelos que dizem que amam.

Grande abraço e muito amor

  
Por que alguns sabem amar e outros não?

Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers - se posso dizer - homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.








  
Jacques Alain Miller
Fragmento da entrevista realizada por Hanna Waar,
da Psychologies Magazine, Outubro 2008.

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