sexta-feira, 9 de setembro de 2011














É Preciso (a próxima parada)

É preciso falar dos amigos
É preciso falar de nós dois
É preciso falar de estar vivo
E do que nos espera depois
É preciso falar de carinho
É preciso falar de calor
E ouvir sua voz na batida
Contando segredos
É preciso falar
É preciso falar, hey, hey

É preciso falar da saudade
É preciso falar da paixão
É preciso falar de ser livre
E querer segurar sua mão
É preciso brindar o destino
É preciso gritar “começou”
Se jogar nessa dança na vida
Sem medo do escuro
Impossível não falar de amor
É preciso falar
É preciso falar, hey, hey

É preciso falar
A verdade
É preciso falar, hey, hey
Cada vida tem a sua estrada
Acredite no poder das palavras
Diga assim, essa noite vem
Deixa o sol nos levar amor
Beijos, planos, a próxima parada
É preciso falar
É preciso falar, hey, hey

Para ler esta postagem ouvindo a canção clique em:



O mal-estar na civilização é a (falta de) comunicação

CENA 1
O sinal acaba de fechar e em pleno asfalto a batida surda, o sobressalto.
Alguém sai possesso do veículo e tão rápido como um fechar de sinal, ceifa a vida do motorista que acabara de “avançar no vermelho”.
Quase nenhuma palavra foi proferida não fossem os curtos xingamentos medidos a igualmente curtas passadas e o estampido seco e veloz como o carro e como o impulso.

CENA 2
Um promissor e jovem casal. Quem diria deles um perjúrio?
Exemplares mas no fim e sem aviso-prévio, o que sua vizinha de condomínio (e a nação inteira) assistiu perplexa no telejornal foi a manchete seguida de extensa matéria ao vivo direto do local do crime:
Após uma aparente discussão de casal, filho de três anos é arremessado pela janela do apartamento no oitavo andar.

CENA 3
Não reagir diante de um assalto é lição de sobrevivência, certo? Errado.
Pelo menos foi o que não fez um senhor de 65 anos que depõe ao delegado plantonista. Relatou que além do fato de reagir e impedir que o criminoso lhe tomasse o relógio, herança da esposa morta há dois anos, ainda conseguiu num golpe de mestre desviar a atenção do meliante, derrubando-lhe, desarmando-lhe e com a mesma faca que antes lhe ameaçava, desferiu sete rápidos, profundos e mortais golpes nas costelas do franzino atingindo-lhe pulmão e coração.


Os casos acima relatados compõem os capítulos de uma novela diária que bem poderia se chamar impulsividade, mas aqui são ficcionais inspirados em realidade, quando em desatino, sob pressão e sem tempo a perder somos até capazes de matar, deixando em último plano o precioso dom da racionalidade, do diálogo, do discordar articulado em discurso, fala, texto, intelecto.

E o que estas narrativas policiais e a nossa vida real possuem em comum?
A questão da comunicação, ou melhor, da falta de comunicação numa era onde todo o mundo vasto mundo está conectado nos fios da grande teia de redes sociais e ao mesmo tempo não consegue mais assimilar, simbolizar, pensar. O processador, a tecla, a internet, a senha, o led, o byte e a multimídia global “facilitaram” sem concessões e indiscriminadamente cada vez mais robotizada, a raça humana movimenta-se rumo ao surto psicótico dos verbos formatar, resetar e deletar.  

Além disso, acenamos docemente para a janela da perversão quando em alguns tudo isso passa a ser condição sine qua non ao seu inconsciente a céu aberto. É assim que todas as pulsões sem filtro, sem reflexão, sem eufemismos poéticos encontram a estrada franca e aberta entre dois sujeitos em seu estado bruto, brutal, brutalmente redundante desta civilização e de uma cultura contemporânea que abraça o descartável e beija o efêmero das relações humanas (e não apenas destas), nos impele ao muro do desamparo e nos coloca numa posição que realmente, e com cada vez mais freqüência, tem se aproximado da psicose e da perversão.

Por isso é preciso... falar

Falarmos para a promoção do bem-estar psíquico intermediado pela palavra (psi)canalizada. É o caráter epifânico que a palavra em desabafo tem no processo de descoberta de si mesmo e que a boa psicanálise tem assegurado ao longo de sua evolução e da nossa (por vezes lamentável) evolução.


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